A importância da organização dos trabalhadores
Em recentes conversas com empresários, gestores, profissionais e estudantes, ouvi alguns comentários sobre sindicatos, sobre a organização dos trabalhadores que me deixaram um tanto quanto surpreso. Eram opiniões como: “eu odeio os sindicatos, qualquer sindicato…”, “eu não quero participar desta discussão sobre sindicato…”, “os sindicatos não servem para nada…”, dentre outras opiniões pejorativas, logo diante deste cenário, gostaria de apresentar alguns argumentos em defesa dos sindicatos no Brasil.
Início minha defesa pela teoria evolucionista, com o “desenvolvimento” do ser humano. Nós somos resultado de um processo evolutivo. Estamos na terra há aproximadamente 70 milhões de anos. Se considerarmos dos hominídeos até o homo sapiens estamos habitando o planeta terra há aproximadamente 100 mil anos, há pouco tempo éramos completamente errantes, andávamos nas florestas, usávamos instrumentos de pedras e ossos, vivíamos caçando e sozinhos.
Esta situação foi mudando e evoluindo, tanto pela nossa alimentação – pois comíamos carne, pelo nosso cérebro (que nos ajudou em nossa percepção dos fenômenos da natureza, chuva, sol, vento, dia, noite), pelo nosso polegar (que permitiu construir ferramentas), quanto pela nossa capacidade de organização. Essa é uma palavra chave no processo de evolução do homem, a organização.
Nos organizamos em bandos, em tribos, em castas, em famílias, em cidades, Estados e Nações….
A organização nos fez perceber que juntos conseguiríamos fazer mais do que sozinhos, vencer os diversos desafios e perigos do ambiente, viver mais e melhores.
Todo o grupo, sem exceção, em um regime democrático, tem o direito à organização.
Na atual conjuntura temos diversas “organizações” públicas e privadas defendendo seus interesses, tais como, Associações Comerciais (praticamente em todos os municípios do Brasil), Federações de Industriais (presente em todos os Estados), Sindicatos Patronais (diversos segmentos) e Confederações Nacionais, cito algumas: do Comércio / Bens / Serviços e Turismo – CNC, da Agricultura – CNA e das Indústrias – CNI. Entendo que todas são legitimas e defendem seus respetivos interesses, só não entendo a razão para a ira de alguns, contra os sindicatos e as organizações exclusivamente dos trabalhadores.
Me preocupa quando as classes sociais e econômicas, de diversos segmentos se organizam, se entendem e cobram seus direitos e interesses, e aos trabalhadores ficam as palavras duras, grosseiras e impedimentos de organização. Fico me perguntando por que? Por que os demais grupos podem se organizar e os trabalhadores não?
A relação capital trabalho, patrão e empregado sempre apresentou momentos de conflitos e problemas, a necessidade de liderança e diálogo é uma condição primordial para o crescimento e evolução das pessoas e organizações, caso contrário ainda estaríamos trabalhando 18 horas por dia, sete dias por semana, com mão-de-obra escrava ou semiescrava, incluindo crianças nas fábricas insalubres, sem segurança, sem férias, sem previdência ou outros direitos que hoje estão presentes de forma natural em nosso ambiente.
A história demonstra que toda radicalização de um lado ou de outro não representa no curto ou médio prazo nenhum ganho para a coletividade, ficando sempre um grupo com privilégios que comprometem toda a sociedade. É necessário a busca pelo equilíbrio e pelo diálogo.
Também é fato, que apenas o livre mercado e o capitalismo sem instrumentos de controle, tem se mostrado nocivo para a sociedade, cito casos de trabalhadores bolivianos explorados em confecções clandestinas em São Paulo, ou crianças sendo usadas na produção de carvão ou ainda agricultores em condições de escravidão em fazendas do Sudeste, Norte e Nordeste do Brasil, acrescento aqui o caso de várias mortes de líderes sindicais, principalmente nas áreas rurais de nosso grandioso país.
Não é hoje e nunca foi uma luta de forças iguais, de um lado temos o sistema, a mídia e o capital, do outro temos a voz, as ideias, as aflições e necessidades de trabalhadores, no entanto, apesar de tudo, é necessário manter o canal de diálogo entre as partes.
Entendo não ser democrático, justo e ético a ferocidade contra a organização dos trabalhadores. Têm-se que equilibrar a balança, de forma ordenada, inteligente, inovadora e coerente, na certeza da busca das melhores alternativas, sempre através do diálogo.
É preciso lembrar que as conquistas de hoje, são reflexos de anos de lutas, cobranças, reinvindicações, muito diálogo e as vezes, quando não se consegue evoluir, então cabem estratégias e ações mais fortes, sem perder de vista o respeito aos seres humanos às organizações e à democracia.
Cabe aos sindicatos, a organização dos profissionais, a manutenção do diálogo, a liderança responsável, o equilíbrio entre direitos e deveres, a representação profissional nas diversas instâncias e a busca do atendimento dos interesses das categorias.
Pense todos os dias como você pode ajudar na defesa dos interesses de sua categoria profissional.
Juntos somos mais fortes. Obrigado.
* Pierre Januário, presidente do Sindicato dos Administradores do Maranhão (SINADMA), administrador e mestre em gestão empresarial.