“A luta do movimento sindical é pela vida: da sociedade, das famílias e das nações”, afirma Lorenzo Carrasco
Jornalista mexicano comentou o que considera ser a missão do movimento sindicalista mundial durante Seminário de Formação Política da CSB
“O mundo do trabalho é superior ao mundo do capital”. A frase do ex-presidente dos EUA Abraham Lincoln foi uma das principais citações que nortearam a explanação do jornalista mexicano, Lorenzo Carrasco, durante o Seminário Nacional de Formação Política da CSB, que aconteceu na segunda-feira (6).
Convidado para fortalecer as relações entre o movimento sindical da América Latina, o jornalista forneceu um breve panorama global sobre a situação dos trabalhadores de todo o mundo ao relembrar a crise mexicana de 1982 e exaltar a decisão tomada pela Grécia, no referendo do último domingo (05/07), de não se submeter às condições de austeridade impostas pela União Europeia. De acordo com Carrasco, “chegamos a maior de todas as crises” por causa do sistema de dívida estabelecido pela Inglaterra, no final do século XVII.
“Nós estamos vivendo um novo sistema colonial que necessita ser reformado. Esse sistema se veio a questionar pela crise e decisão do povo grego. Nós temos que ver isso como parte, certamente, da luta que os sindicatos têm que fazer com relação ao sistema da dívida, porque isto é um problema”, ressaltou o dirigente.
Para Lorenzo Carrasco, o mandato do trabalho está na origem da civilização humana e precisa ser defendido pelo movimento sindical para que seja possível superar as medidas de aumento da taxa de juros. Segundo o dirigente, se mais de 50% do orçamento for destinado a manter o sistema da dívida, “estamos na situação grega”.
Luta sindical
Durante sua fala, Carrasco promoveu uma reflexão sobre a relevância do trabalho para dignificar o homem como um ser complexo e completo. Ao citar partes da história americana, Carrasco afirmou que o continente enfrenta o equivalente à luta pela abolição da escravatura. “A escravidão está estabelecida pelo sistema da dívida, que está escravizando a humanidade inteira”, esclareceu.
De acordo com ele, o raciocínio é lógico. “Quais são os direitos inalienáveis? A vida, a liberdade, a busca da felicidade. Sem trabalho: sem vida, sem liberdade. O trabalho é um direito que antecede todos os direitos”, declarou Carrasco.
Para explicar a relação entre o compromisso da luta sindical e o conceito de liberdade, o representante mexicano fez uma alusão à Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade de 1963, encabeçada por Martin Luther King – personalidade relevante na luta pela igualdade racial nos EUA, famoso pelo seu discurso no Estado de Tennessee, onde disse a famosa frase: “Eu tenho um sonho”.
Em manifestação política pela justiça social, a marcha que reuniu mais de 250 mil pessoas foi organizada, segundo o dirigente, por Philip Randolph, um sindicalista.
“Cito isso porque [este fato histórico] nos coloca uma responsabilidade muito importante”, explica o dirigente, e declara: “Eu não creio que a luta do movimento sindical é por trabalho. A luta do movimento sindical é pela vida; pela vida da sociedade, pela vida das famílias e pela vida das nações. Isso nos dá um parâmetro do tipo de luta que o movimento deverá enfrentar para ter uma vitória. Esta é a missão desta nova época”.
Brasil-México
Carrasco também destacou a importância do Fórum Brasil-México. “México e Brasil são as duas maiores nações da América Latina e se ganha muito com esses países colocados juntos. O Fórum é a maneira de debater livremente opiniões e reunir pessoas que tenham interesses e ideais para podermos iniciar um formato de ação para os movimentos sindicais”, disse Carrasco.
Em entrevista, o jornalista traçou paralelos entre as conjunturas políticas e econômicas, e as lutas sindicais de ambos os países. Segundo Lorenzo Carrasco, “a situação econômica do México é igual a do Brasil. Simplesmente são fases diferentes de uma mesma política, da qual algumas das características são: a violação dos direitos trabalhistas e a flexibilização da legislação do trabalho. Essas são questões refletidas nos dois países”.