Aparente cura de portador do HIV traz esperanças de vitória contra aids
Cerca de 35 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com aids, de acordo com informações de 2013 da Organização Mundial de Saúde. Médicos na Espanha agora possivelmente encontraram uma maneira de ajudar essas pessoas. Um homem de 37 anos de idade que contraiu o vírus da doença em 2009 foi tratado no Instituto Catalão de Oncologia. Ele recebeu transfusões de sangue de cordão umbilical de pessoas que são geneticamente resistentes ao HIV. Elas carregam em si uma mutação genética que impede que o vírus da aids penetre em suas células.
Depois de eles receberem a doação de sangue do cordão umbilical, não conseguimos mais detectar HIV nos pacientes”, afirmou Rafael Duarte, diretor do programa de transfusão de sangue do hospital em Barcelona.
Infelizmente, os médicos do chamado “paciente de Barcelona” não conseguiram realizar exames a longo prazo, para ver se o vírus realmente foi finalmente derrotado. O homem morreu três anos após o tratamento devido a um linfoma. Por causa desta doença é que ele originalmente foi tratado na clínica de câncer catalã.
Duro revés
Por isso, a equipe de Duarte tem muito cuidado com o termo “cura”. Afinal, exames regulares em pacientes aparentemente “curados” são um dos componentes mais importantes na luta contra a aids. Essa doença insidiosa pode se manifestar repentinamente no paciente, mesmo após parecer ter sido vencida durante meses ou mesmo anos.
O pesquisador de aids Ole Schmeltz Sogaard, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, também acredita que deve haver um longo período livre de doença antes que seja possível se começar a falar em cura. “Para ser considerado curado de câncer, a pessoa deve estar há cinco anos livre da doença”, observa Sogaard. “No caso do HIV, deve haver algo similar, porque sabemos que algo como meio ano não é suficiente.”
O caso de uma menina nos EUA confirmou isso de forma dolorosa. “Mississippi Baby” nasceu em 2010 com o HIV, passado por sua uma mãe seropositiva. Em poucas horas, os médicos começaram a aplicar no bebê uma terapia antirretroviral altamente ativa para combater o vírus HIV. A família interrompeu o tratamento após 18 meses, mas 10 meses depois, o sangue da menina não mostrava mais sinais do vírus ou de seus anticorpos. O tratamento precoce parecia ter sido suficiente para derrotar o HIV.
Mas em julho de 2014, depois que a menina não havia mais tomado medicamentos durante 27 meses, a esperança de um perfeito tratamento para a aids foi destruída. Em exames de acompanhamento de rotina, os médicos constataram que a quantidade de vírus no sangue da criança havia subido bruscamente. Além disso, sinais de um funcionamento normal do sistema imunológico foram constatados na garota em menor número do que o normal.
O retorno da doença veio do nada. Hannah Gay, pediatra do Hospital da Universidade de Mississippi, que tratava a menina, disse que a descoberta viera como se fosse “um soco no estômago”.
Médicos e cientistas tinham depositado grandes esperanças no tratamento aparentemente eficaz e já haviam começado a fazer planos para a expansão do tratamento a outras crianças HIV-positivas. Agora eles têm que recomeçar do zero.
“Kick and kill”
O problema é que o vírus HIV se “esconde” nas células, de modo que os médicos não podem vê-lo. Medicamentos também não conseguem, dessa forma, atuar contra o vírus. “Mississippi Baby” tem agora que voltar a receber medicação, já que o vírus ressurgiu em seu sangue.
Isto é necessário porque o tratamento original não atingiu as células ocultas do vírus. Ele continuou armazenado no corpo e pode fazer com que a doença se manifeste de repente. Sogaard e seus colegas da Universidade de Aarhus podem ter descoberto uma maneira de resolver este problema.
O nome do método é “kick and kill”, que pode ser traduzido livremente para algo como “desalojar e matar”.
“Quando um paciente HIV-positivo responde bem ao tratamento antirretroviral, não podemos verificar resíduos do vírus em seu plasma, mas o HIV está, no entanto, ainda em seu DNA”, explica Sogaard. “Chamamos isso de infecção latente”, diz o pesquisador. “Quando, então, o paciente para de tomar os medicamentos, o vírus pode ser reativado novamente.” Por isso, atualmente é necessário um tratamento com drogas durante toda a vida, para manter o vírus sob controle. Com o método “kick and kill”, isso pode, entretanto, ser em breve coisa do passado.
“O sistema imunológico não reconhece a diferença entre uma célula com HIV em seu DNA e uma célula sem HIV “, ressalta Sogaard. “Mas se você consegue tirar o vírus de seu esconderijo, o sistema imunológico reconhece o problema e pode matar as células. O truque, então, é desalojar o vírus do DNA e trazê-lo para a superfície da célula, para que ele possa ser reconhecido e aniquilado.”
Visão otimista do futuro
#B#O pesquisador de HIV ainda está trabalhando em um coquetel de medicamentos que realize tanto a expulsão do vírus como a destruição de células doentes. Até agora, ele e seus colegas trabalharam apenas com misturas que podem fazer uma coisa ou outra. Quando eles conseguirem chegar a seu objetivo, o método “kick and kill” poderá ser utilizado em todo o mundo contra a aids. Sogaard diz que o método pode ser ampliado e também ser adequado para países em desenvolvimento. Este é um ponto importante, já que o vírus se dissemina mais no continente africano do que em qualquer outro lugar do mundo.
Sogaard tem grandes esperanças em seu projeto e no futuro da luta contra a Aids. “Com o conhecimento que temos agora, não há razão alguma para acreditar que vamos vencer a doença no prazo de cinco a dez anos. Mas sou otimista e tenho certeza de que vamos chegar ao nosso objetivo: sermos capaz de curar o HIV.”