Só que os padrões de doença mudaram de 1948 para cá. A maioria das pessoas está envelhecendo com problemas crônicos e deficiências, mas continua independente. “A antiga definição minimiza o papel da capacidade humana em lidar com desafios físicos, emocionais e sociais da vida de maneira autônoma e não reconhece que as pessoas são capazes de viver com uma sensação de bem-estar e realização mesmo quando sofrem de uma condição crônica ou deficiência”, escreveu Machteld Huber e suas colegas no BMJ, em 2011.
Eles também observaram que a habilidade para continuar a participar da sociedade pode ser mais importante do que medir ganhos na saúde. A capacidade de lidar com as moléstias pode ser uma medida mais importante e realista que a recuperação completa.
Isso nos leva a uma análise séria de tudo o que fazemos para descobrir, tratar ou enfrentar os problemas de saúde. A crença atual de que a medicina tem o potencial para prevenir quase todos os males ou detectá-los tão incipientes que sempre é possível uma cura, conseguiu “medicalizar” a vida moderna e elevar os custos da assistência médica a níveis insustentáveis.
Também levou H. Gilbert Welch, professor da Escola de Medicina de Dartmouth, em New Hampshire, a escrever Less Medicine, More Health: 7 Assumptions That Drive Too Much Medical Care (Menos Remédios, Mais Saúde: 7 Suposições que Levam ao Tratamento Excessivo). No livro, ele afirma que muita gente está servindo de cobaia de forma excessiva e aleatória, sujeitando-se a tratamentos de que não precisa e, com isso, expondo-se a procedimentos que causam mais mal que bem.
Ele sugere foco na redução de grandes riscos, basicamente ignorando os médios e pequenos.
— Muitos riscos à saúde de que se ouve falar são exagerados. Intervenções para reduzir riscos médios criam tantos problemas quanto os que resolvem — diz.
Neuroimagem comprova melhoras anatômicas
Talvez a “suposição” mais polêmica de Welch seja a que afirma que detectar um possível problema de saúde incipiente é melhor do que esperar até que apareçam os sintomas. A eficácia dos exames em pessoas assintomáticas talvez seja um dos temas mais controversos na medicina moderna.
Welch defende também que, às vezes, o diagnóstico precoce só faz com que o tratamento se estenda por mais tempo. “A ação nem sempre é a opção correta”, escreve. O problema, obviamente, é saber quando é seguro monitorar a doença e tratá-la só se progredir.
— É essencial para a saúde não se tornar obcecado por ela. Assistência médica em excesso não ajuda a pessoa. Precisamos de mais cautela com a medicação quando estamos bem. É preciso avaliar as opções e não necessariamente adotar a mais radical, que pode também resultar em piores sequelas — disse Welch.
A definição da OMS
Se não é o tratamento médico moderno, o que realmente define a saúde de uma pessoa? A OMS hoje reconhece que os seguintes fatores podem ter efeito até maior em nosso estado do que o acesso e uso do serviço de assistência médica:
— Renda, status social e educação; quanto mais altos, mais saudável
— Ambiente físico: água potável, ar puro, ambiente de trabalho sadio, casa segura e comunidade bem planejada
— Rede de apoio social, incluindo família, amigos e comunidade
— Genética, que influencia a expectativa de vida e o risco de desenvolvimento de determinadas doenças
— Gênero: homens e mulheres enfrentam riscos de saúde diferentes em diferentes fases da vida
— Comportamento pessoal e habilidade de enfrentar dificuldades, além de fumo, consumo de bebidas alcoólicas, hábitos alimentares, atividade física e forma de lidar com o estresse