Ministro da Saúde nega que haja vacina contra dengue para o próximo verão
Alckmin afirmou que pedirá liberação à Anvisa da vacina do Butantan, em testes; ex-diretor científico do instituto, porém, levanta suspeitas sobre sua produção no órgão ligado ao governo paulista.
São Paulo – O ministro da Saúde, Arthur Chioro, afirmou hoje (10), em audiência na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, que não há vacina contra a dengue que esteja disponível para imunizar a população no próximo verão.
A partir de meados de março, quando a doença se tornava epidemia em todo o estado de São Paulo, que teve o número de casos quadruplicado em relação ao período anterior por causa do armazenamento inadequado de água devido à crise no abastecimento, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) passou a afirmar que pediria à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a liberação da produção da vacina do Butantan, ainda em fase de testes.
Na época, Chioro chegou a dizer que pediria “prioridade, mas tomando todas as medidas de prevenção”, caso recebesse pedido para análise do registro da vacina contra dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan.
De acordo com a Anvisa, em 10 de abril o Butantan entrou com pedido de autorização para a terceira fase de estudos clínicos com a vacina – e não para a produção em escala para vacinação da população, como pretendia Alckmin.
No final de abril, com a priorização da análise prometida pelo Ministério, os técnicos da agência não se deram por satisfeitos com a documentação enviada pelo Butantan. As informações adicionais ainda não foram encaminhadas à Anvisa. Quando chegarem, serão novamente analisadas.
Eficácia e segurança
Segundo Chioro afirmou aos senadores, o Instituto Butantan, vinculado ao governo paulista, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao governo federal, tentam desenvolver a vacina, mas ainda não concluíram todas as fases dos testes necessários para avaliar a eficácia e a segurança do imunizante. O laboratório francês Sanofi, em parceria com o Instituto Pasteur, da França, é o que está mais adiantado nas pesquisas e já entrou em estágio de registro na agência.
“Mas essa vacina ainda levanta muitos questionamentos, já que a resposta imunológica é de apenas 62% e não pode ser aplicada em crianças e idosos. Como todos esses produtos ainda estão em testes, não podemos adotar nenhum deles.”
A expectativa é de redução dos casos de dengue a partir deste mês. Com os dias secos e frios, diminui a proliferação do mosquito e as pessoas ficam menos sujeitas às picadas com calças e mangas longas.
Em maio foi registrado 1,02 milhão de casos da doença, com 378 mortes. Mas houve declínio nos registros, ficando 68% menor do que em abril, quando foram notificados 348,2 mil casos contra 111,1 mil em maio. Porém, o Ministério da Saúde reforça a importância das medidas de prevenção durante todo o ano.
“A promessa de que a vacina chegará no próximo verão é infundada. Não temos uma vacina contra dengue em nenhum lugar no mundo que esteja em fase de registro. Precisamos centrar esforços nas medidas de prevenção”, disse o ministro, salientando que o mosquito não é federal, estadual ou municipal – mas um problema de todos.
“Eu gostaria muito de ter a vacina, mas só poderemos incorporar ao SUS quando tivermos eficácia e preço necessário.”
Vacina da dengue do Butantan é questionada por ex-diretor cientifico
No último dia 2, Antonio Carlos Martins de Camargo, médico, professor titular (aposentado) de Medicina da USP e ex-diretor científico do Instituto Butantan, protocolou na Ouvidoria Central da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo uma série de questionamentos a respeito da vacina contra a dengue que estaria sendo produzida no Butantan.
Camargo trabalhou no Butantan entre 1994 e 2007, onde implementou e chefiou o laboratório de pesquisa de toxinas e suas aplicações no desenvolvimento de fármacos.
Com base na Lei nº 12.527/2011, que regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas, ele pede que a secretaria responda a pontos referentes à capacidade técnica, científica e financeira para a execução do projeto.
“O Instituto Butantan se voluntariou para resolver, sozinho, um problema complexo que exige uma força-tarefa que aglutine especialistas, universidades e agências governamentais, instituições de pesquisa e laboratórios públicos e privados para estabelecer uma estratégias de prevenção de uma epidemia?, questiona.
Ele indaga ainda ao secretário de Saúde, David Uip, se o Butantan tem sido submetido a avaliações externas por especialistas na área de vacinas, vindas de instituições como o Instituto Manguinhos, Pasteur e National Institutes of Health, dos Estados Unidos, bem como os nomes dos avaliadores e os resultados dessas avaliações.
“Há repasses de recursos de instituições de fomento à pesquisa, como a Finep, Fapesp, CNPq para o projeto da vacina da dengue? Quais os valores e a avaliação de resultados desses repasses?” Para Camargo, é questionável a qualificação dos especialistas do Butantan que participam desse empreendimento. Por isso, ele quer que a Secretaria de Saúde apresente ainda todas as certificações dos pesquisadores envolvidos.
No mesmo dia 2, o ex-diretor do Instituto e da Fundação Butantan, Isaias Raw, também fez críticas à instituição.