Vacinação masculina contra HPV não é prioridade
Em 2014, o Sistema Único Saúde (SUS) passou a oferecer gratuitamente a vacina contra o Papiloma Vírus Humano (HPV), uma das principais causas do câncer de colo de útero, para meninas de 11 a 13 anos. A primeira dose da vacina foi distribuída a partir de março, para 236 mil meninas no Estado, o equivalente a uma cobertura de 97% do público-alvo. A segunda dosagem começou a ser aplicada no dia 1 de setembro, e segue sem previsão de término. Até o momento, foram 150 mil segundas jovens imunizadas, o que equivale a 61% de cobertura. A meta da Secretaria Estadual da Saúde (SES) é alcançar, pelo menos, 80% do público-alvo.
Uma vez que o HPV nem sempre apresenta sintomas e acaba eliminado pelo organismo espontaneamente, a SES não possui um levantamento de incidências de casos. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que 840 casos sejam registrados no Rio Grande do Sul este ano, o que representa uma incidência de 14,63 a cada 100 mil habitantes. Se não tratadas, as lesões precursoras podem progredir para o câncer, principalmente no colo do útero, mas também na vagina, vulva, ânus, pênis, boca e orofaringe (parte da garganta logo atrás da boca).
A prioridade da campanha de vacinação é, evidentemente, a imunização de meninas. Entretanto, as mulheres não são as únicas expostas ao vírus. Em meninos, a situação também é delicada, uma vez que os sintomas, geralmente, são silenciosos. Alguns tipos de HPV podem fazer com que surjam verrugas genitais. Em casos extremos, a doença pode causar câncer no pênis, no ânus ou na garganta.
A classe médica indica que a imunização seja realizada antes de os adolescentes iniciarem a vida sexual. Na primeira fase, iniciada em março de 2014, o Ministério da Saúde aconselha que a vacina seja distribuída para meninas de 11 a 13 anos. Em 2015, o público-alvo será composto de meninas entre nove e 11 anos, e em 2016, a ação ficará restrita às meninas de nove anos. Embora os indivíduos do sexo masculino sejam o principal vetor de transmissão da doença, não existe pretensão da Secretaria Estadual da Saúde (SES) do Rio Grande do Sul de oferecer recursos para a compra de vacinas para aplicação em meninos.
A coordenadora do programa de imunização da SES, Tani Ranieri, reconhece que a iniciativa seria benéfica, e que o principal impasse é a falta de recursos financeiros. “Uma vez que as meninas estejam protegidas, elas não transmitirão a doença para meninos, o que já ajuda no controle”, explicou. Além disso, a intenção principal da campanha orientada pelo Ministério da Saúde é reduzir o número de incidência de câncer de colo uterino, que só atinge mulheres. “Os meninos se tornam indiretamente protegidos com a vacinação no grupo feminino. A transmissão de verrugas genitais entre homens após a implantação da vacina como estratégia de saúde pública reduziu bastante.”
No Interior do Estado, porém, uma iniciativa diferente chama a atenção. No ano passado, o município de Farroupilha, na Serra, tornou-se precursor na campanha de vacinação no Estado. A cidade também ganhou destaque por ser a única que vacina meninos, com recursos próprios.
O prefeito Claiton Gonçalves, que atua também como ginecologista há mais de 20 anos, reitera a ideia de que o homem é o transportador do vírus. “Como nem sempre o menino apresenta sintomas, ele acaba se tornando um replicador da doença viral, mesmo sem saber”, explica.
Sendo assim, o apelo da campanha em Farroupilha passou a ser a preservação do sexo e órgãos genitais saudáveis, tanto de meninas como de meninos. “Equipes da Secretaria da Saúde trabalharam dentro das escolas, com a permissão dos pais das crianças. O mesmo trabalho de conscientização foi feito com os professores.”
A primeira etapa de vacinação abrangeu 2.500 adolescentes de ambos os sexos, de todos os colégios do município. De 15 a 19 de dezembro deste ano, ocorreu a aplicação da segunda dose aos meninos nascidos entre 2002 e 11 de março de 2003, que já se vacinaram na primeira etapa. A estimativa é de que 500 garotos tenham sido vacinados.
Através de recursos disponibilizados por uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) prestadora de serviços médicos em Farroupilha, o município conseguiu adquirir doses da vacina quadrivalente para aplicar dentro das escolas. Esse tipo de imunização para o sexo masculino foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em maio de 2011, resultando em proteção de 86% contra infecção persistente, 86% contra verrugas e 75% contra câncer anal.
Câncer de colo do útero é um dos mais frequentes
A ocorrência do HPV em mulheres é tratada com maior cautela devido à evolução para o câncer. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de colo do útero é o quarto mais frequente e o terceiro tumor mais recorrente na população feminina, atrás apenas dos de mama e colorretal, sendo responsável pelo óbito de 265 mil mulheres por ano. Aproximadamente 530 mil novos casos são registrados anualmente no mundo. Em 2014, também de acordo com o Inca, 15.590 foram registrados no País.
Para a prevenção, existem as vacinas quadrivalente, que confere proteção contra HPV 6, 11, 16 e 18, e bivalente, que confere proteção contra HPV 16 e 18. Existem 40 tipos de HPV que podem infectar o trato ano-genital. Pelo menos 13 deles são considerados oncogênicos, ou seja, podem apresentar maior risco ou probabilidade de provocar infecções persistentes. No total, existem mais de 100 tipos do vírus. Os tipos 16 e 18 estão associados a 70% dos casos de câncer de colo do útero. Já os HPV 6 e 11, encontrados em 90% dos condilomas genitais e papilomas laríngeos, são considerados não oncogênicos.
O câncer de colo do útero, também conhecido como câncer cervical, é provocado pela infecção persistente por alguns tipos do HPV. A infecção genital pelo vírus é bastante frequente, embora não cause a doença, na maioria das vezes. Em alguns casos, porém, alterações celulares podem ocorrer, de modo a evoluir para o câncer. O Papanicolau, exame preventivo realizado por ginecologistas, detecta tais alterações.